Astrobiology Magazine
21 de janeiro de 2020
Atualmente, a Terra é o único local conhecido no Universo em que existe vida. Neste ano o Prêmio Nobel de física foi concedido a três astrônomos que provaram, há quase 20 anos, que planetas são comuns em outros sistemas estelares. A vida ocorre de diversas formas, desde organismos portadores de telefones celulares, como os seres humanos, até micro-organismos onipresentes, que habitam quase todo centímetro quadrados do planeta Terra, afetando quase tudo que nele ocorre. Provavelmente demorará um pouco até que seja possível mensurar ou detectar vida além do Sistema Solar, mas o nosso sistema planetário possui diversos locais que podem dar indicações de como é difícil para a vida ter início.
Marte está no topo da nossa lista por dois motivos. Primeiro, ele está relativamente próximo da Terra, se comparado às luas de Saturno e Júpiter (que também são consideradas boas candidatas para a descoberta da vida além da Terra no Sistema Solar, e que foram selecionadas para exploração na próxima década). Segundo, Marte é extremamente observável por não possuir uma atmosfera densa como Vênus e, até o momento, existem evidências muita boas de que a temperatura e a pressão superficiais de Marte oscilam em torno do ponto em que a água em estado líquido – considerada essencial para a vida – pode existir. Ademais, existem fortes indicações na forma de deltas de rios observáveis, e, mais recentemente, de mensurações feitas na superfície do planeta, de que a água líquida de fato fluía em Marte bilhões de anos atrás.
Os cientistas estão ficando cada vez mais convencidos de que, bilhões de anos atrás, Marte era habitável. Se o planeta foi, ou se ainda é, de fato habitado, continua sendo uma questão bastante debatida. Para demarcar melhor essas questões, os cientistas estão tentando entender os tipos de química da água que poderiam ter gerado os minerais observados atualmente em Marte, e que foram produzidos bilhões de anos atrás.
Salinidade (a quantidade de sal presente), pH (medição do grau de acidez daquela água) e estado redox (grosso modo, uma medida da abundância de gases como hidrogênio [H2, indicando ambientes redutores] ou oxigênio [O2, indicando ambientes oxidantes; sendo os dois tipos, de forma geral, mutuamente incompatíveis]) são propriedades fundamentais das águas naturais. Como exemplo, a atmosfera moderna da água é altamente oxigenada (contendo grandes quantidades de O2), mas hoje em dia é necessário apenas escavar alguns centímetros em uma praia ou um lago para encontrar ambientes altamente reduzidos.
Recende medições remotas em Marte sugerem que os ambientes antigos do planeta podem indicar pistas sobre a habitabilidade inicial do planeta. Especificamente, as propriedades da água subterrânea contida no interior de sedimentos, aparentemente depositada em lagos na Cratera Gale de Marte, sugere que tais sedimentos se formaram na presença de água líquida que possuía um pH próximo ao dos atuais oceanos da Terra. É claro que os oceanos da Terra abrigam uma miríade de formas de vida, sendo assim parece convincente a ideia de que, quando Marte era jovem, o ambiente na superfície do planeta poderia ter sido habitado pela vida da Terra contemporânea. Porém continua sendo um mistério o motivo pelo qual é tão difícil encontrar evidência de vida de vida em Marte.
Tradução: Danilo Fonseca