Derretimento de Gelo no Ártico Está Mudando Correntes Oceânicas

Derretimento de Gelo no Ártico Está Mudando Correntes Oceânicas

NASA

6 de fevereiro de 2020

Uma importante corrente oceânica no Ártico está mais rápida e turbulenta como resultado do rápido derretimento do gelo marinho, segundo revela um novo  estudo da Nasa.  A corrente faz parte de um delicado ambiente ártico que está sendo agora inundado com água doce, um efeito da mudança climática provocada pelo ser humano.

Usando 12 anos de dados de satélites, cientistas mediram de que forma essa corrente circular, conhecida como Giro de Beaufort, equilibrou precariamente um influxo de quantidades sem precedentes de água doce e fria, uma mudança que poderia alterar as correntes do Oceano Atlântico e resfriar o clima da Europa Ocidental.

o Giro de Beaufort mantém o ambiente polar em equilíbrio ao armazenar água doce próximo à superfície do oceano. O vento sopra o giro oceânico em sentido horário em torno do Oceano Ártico Ocidental, ao norte do Canadá e do Alasca, onde ele naturalmente coleta água doce oriunda do derretimento de geleiras, do escoamento dos rios no mar e das chuvas.  Essa água doce é importante no Ártico, em parte porque ela flutua sobre a água salgada e mais quente, e ajuda a proteger o gelo marinho do derretimento, o que, por sua vez, ajuda a regular o clima da Terra.  O giro a seguir libera vagarosamente essa água doce no Oceano Atlântico no decorrer de décadas, permitindo que as correntes deste oceano a carreguem em pequenas quantidades.

Porém, desde a década de noventa do século passado, o giro acumulou uma grande quantidade de água doce, 8 mil km2, ou o equivalente a quase à metade do volume do Lago Michigan.   O novo Estudo, publicado no periódico “Nature Communications”, revelou que a causa desse aumento da concentração de água doce é a pera de gelo marinho no verão e no outono.  Esse declínio da cobertura de gelo marinho de verão no Ártico, que vem ocorrendo há décadas, deixou o Giro de Beaufort mais exposto ao vento, que faz com que essa corrente gire mais rapidamente e capture a água doce.

Ventos de oeste persistente também arrastaram essa corrente de sentido horário para uma direção por mais de 20 anos, aumentando a sua velocidade e o seu tamanho e impedindo que a água doce deixasse o Oceano Ártico.  O fato de esses ventos de oeste durarem décadas era algo incomum na região, onde os ventos costumavam mudar de direção em períodos de cinco a sete anos.

Os cientistas têm observado o Giro de Beaufort para o caso de os ventos mudarem novamente de direção.  Se isso ocorresse, o vento reverteria a direção da corrente, fazendo com que ela girasse em sentido anti-horário e liberasse de uma só vez toda a água doce acumulada.

“Se o Giro de Beaufort liberasse o excesso de água doce no Oceano Atlântico, isso poderia potencialmente reduzir a velocidade da sua circulação. E isso teria consequências para todo o hemisfério no que diz respeito ao clima, especialmente na Europa Ocidental”, afirma Tom Armitage, principal autor do estudo e cientista polar do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, na Califórnia.

A água doce liberada do Oceano Ártico no Atlântico Norte pode modificar a densidade das águas superficiais.  Normalmente, a água do Ártico perde calor e umidade para a atmosfera e desce para o fundo do oceano, de onde ela empurra a água do norte do Oceano Atlântico para os trópicos, como se fosse uma esteira transportadora.

Essa importante corrente é chamada de Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico e ela ajuda a regular o clima do planeta ao conduzir o calor das águas quentes do trópico para regiões de latitude mais alta ao norte, como a Europa e a América do Norte.  Se a sua velocidade for suficientemente reduzida, isso poderia ter um impacto negativo sobre a vida marinha e as comunidades que dela dependem.

“Não acreditamos que haverá um colapso da Corrente do Golfo, mas nós esperamos que haja impactos. É por isso que estamos monitorando tão atentamente o Giro de Beaufort”, afirma Alek Petty, coautor do estudo e cientista polar do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa, em Greenbelt, Maryland.

O estudo revelou também que, embora o Giro de Beaufort esteja desequilibrado devido à energia extra do vento, a corrente expele esse excesso de energia ao formal pequenos redemoinhos circulares de água.  Embora o aumento da turbulência tenha ajudado a manter o sistema equilibrado, o fenômeno tem o potencial de provocar mais derretimento do gelo, já que ele mistura camadas de água doce e fria com as águas relativamente mais quentes e salgadas de camadas inferiores.  O derretimento do gelo poderia, por sua vez, provocar mudanças na forma como nutrientes e matéria orgânica do oceano são misturados, afetando significativamente a cadeia alimentar e a vida selvagem do Ártico.  Os resultados revelam um equilíbrio delicado entre vento e oceano, no momento em que a calota polar diminui de tamanho devido à mudança climática.

“O que esse estudo está nos mostrando é que a perda de gelo marinho tem impactos realmente importantes sobre o nosso sistema climáticos; e nós estamos apenas começando a descobrir esses impactos”, afirma Petty.

Tradução: Danilo Fonseca

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